Coisa de cinema

O Brasil 3x0 Itália de hoje não teve a mesma carga emocional da final de 94. Tanto por ser um jogo de um torneio caça-níqueis como a Copa das Confederações, como pelo fato da Azzurra não sequer empolgado sua torcida na busca pela reação. Mesmo assim, ver os dois países que mais levantaram a Copa do Mundo duelando sempre me fará lembrar do maior filme de futebol já feito na história do cinema: Todos os Corações do Mundo (Two Billion Hearts), que conta, de forma fantástica, como foi a Copa nos Estados Unidos da América.

Mas se forçarmos a barra só um pouquinho, poderemos achar alguns gêneros cinematográficos no jogo desta tarde.

Ação: O Brasil se lançou ao ataque com disposição e qualidade impressionantes desde o apito inicial. Ramires, Kaká, Robinho e Luis Fabiano, de forma magnífica, fizeram o goleiro Buffon trabalhar bastante. Devido a tanta insistência, sem que o ataque italiano incomodasse de maneira incisiva, o gol brasileiro sairia naturalmente. O que nos leva ao...

Romance: Após receber na área, em condição legal, Luis "Fabigol" teve liberdade e tranquilidade para marcar com categoria. Na comemoração, foi direto para uma das câmeras no campo e dedicou o gol a sua filhinha Giovanna. Afinal, amor, mesmo em filmes, não se resume somente a relação entre marido e mulher.

Terror: Era o que causava a zaga da Azzurra a seu torcedor. Cannavaro e Chiellini, dois zagueiros lentos, comeram poeira do ataque brazuca por jogarem demasiadamente adiantados. Some isso a um posicionamento em linha e entenderá o porque do jogo ter sido tão desigual. E pra aumentar o desespero, veio o segundo gol em linda jogada de Kaká e Robinho, com conclusão de Luis Fabiano.

Comédia: O 3x0 viria mesmo se Dossena não tivesse interferido no cruzamento de Robinho, pois Luis Fabiano lá estava outra vez para fuzilar Buffon. Mas vai dizer que não foi cômico ver o lateral do Liverpool executando a trapalhada na tentativa de mandar a pelota pra escanteio? Claro que Marcello Lippi não achou muita graça, e tratou logo de tentar reverter a situação.

Aventura: No segundo tempo, a Itália se aventurou ao ataque com 3 atacantes: Pepe, Toni (Gilardino) e Rossi, e ainda dá para adicionar Camoranesi, funcionando quase como um ponta pela direita. Não deu muito certo, pois esbarraram no forte esquema defensivo do Brasil, que mesmo tendo tirado o pé do acelerador, ainda se aproveitava do espaços deixados pelas ofensivas italianas para executar contra-ataques.

Drama: Copa das Confederações está longe de ser o objetivo de conquista de qualquer jogador no futebol mundial. No entanto, ser eliminado na primeira fase de um torneio assim é de deixar no mínimo cabeças inchadas na Velha Bota. A Azzurra deve ir para a Copa do Mundo, mas terá grandes dificuldades para defender o cinturão de campeã.

Ficção: Está em acreditar que Dunga transformou essa equipe num esquadrão ofensivo simplesmente pelos grande número de gols marcados. O que traz os triunfos e os gols é o talento dos homens de frente da seleção Canarinho, talento esse incrementado com a titularidade de Ramires. Ao juntar isto a solidez da zaga e a firmeza de Júlio César, aí sim da para dizer que o Brasil se tornou outra vez uma das melhores seleções do mundo.

Ainda na ficção, impossível não comentar a classificação altamente impensada dos EUA para as semifinais. Um heroísmo com o qual ninguem contava, nem os próprios estadunidenses. E para finalizar...

Faroeste: Brasil de um lado, Espanha do outro. As duas seleções mais fortes do oeste, ou melhor dizendo, do planeta. Quem será a mais rápida no gatilho para dar a volta olímpica? Afinal, a África do Sul é pequena demais para as duas.