El Dorado

01/11/2009 23:50

Neste domingo foi realizado pela primeira vez o Grande Prêmio de Abu Dhabi de Fórmula 1. Além do fato de o título do campeonato já estar decidido, havia outro motivo para não prestar muita atenção à prova: é uma aberração. Os Emirados Árabes não têm relevância alguma no automobilismo (o que não significa que não possam ter um dia) e seus sheikhs endinheirados compraram o direito de sediar uma corrida. Construíram uma pista desagradável para os pilotos e inventaram algumas maluquices sem sentido para tentar dar alguma atratividade, como a saída dos boxes em um túnel e o horário misto de competição. O GP de Abu Dhabi é só mais uma prova de que os magnatas do petróleo do tal “mundo árabe” veem o esporte como um brinquedinho.

O futebol da região é um ótimo exemplo disso. Os campeonatos nacionais de países como Qatar, Bahrein, Kuwait ou os próprios Emirados Árabes estão sempre com os estádio vazios. Apenas os sheikhs assistem os duelos entre suas equipes milionárias, repletas de jogadores em fim de carreira ou em busca de um pé-de-meia fácil. O nobre jogo bretão inexiste naquelas terras – é tudo importado, desde a força de trabalho até o conhecimento teórico e técnico. Não há preocupação com a evolução nacional dentro do esporte, só com a grana que pode ser movimentada. Quanto ao uso do desporto como ferramenta social, então, nem se fala. O objetivo não é criar uma cultura esportiva. É entreter os ricaços.

Isso não se restringe às fronteiras. Que o diga, por exemplo, o Manchester City, clube de estimação do sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan. Graças a ele, os Citizens estão passando por cima da história, bagunçando o equilíbrio financeiro do futebol mundial e sendo catapultados a um posto de estrelato na Premier League à base das verdinhas. A influência é assustadora: no jogo mais recente dos azuis de Manchester, contra o Birmingham, oito dos 11 jogadores em campo foram adquiridos na administração de Sheikh Mansour, que recém completou um ano.

Enquanto as brincadeiras dos chefões árabes ficam restritas a seus próprios mundinhos paralelos, temos menos a lamentar. Quando elas passam a fazer diferença dentro de ambientes reais e competitivos do esporte global, temos problemas. À medida em que crescem as vozes dos sheikhs no cenário desportivo legítimo, os princípios vão dando lugar ao poderio financeiro. Por mais que o dinheiro tenha poderes virtualmente ilimitados em qualquer lugar, ainda podemos contar com o espírito de cada esporte para manter algumas coisas do jeito que sempre devem ser. O importante é que as decisões esportivas sejam sempre tomadas tendo como referência o bem do próprio esporte e de seus praticantes e entusiastas, ficando o dinheiro na posição de acessório de tudo isso. Os sheikhs estão invertendo essa lógica. E estão ganhando.

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